Nesta cena suavemente melancólica, Di Cavalcanti nos apresenta uma mulher negra em repouso contemplativo, apoiada sobre o braço, mergulhada num doce silêncio. O vestido claro, o gesto delicado, o olhar velado por sonhos: tudo nela parece suspenso entre o presente e a lembrança. À sua frente, Di desenha uma renda de ferro, em arabescos curvos que dialogam com o corpo da figura feminina, evocando proteção, mas também uma certa clausura poética, que a separa do mundo.
Ao fundo, a paisagem carioca se revela em azuis e verdes serenos: mar, montanhas e veleiros recortam o horizonte com um lirismo leve, quase cinematográfico. Di Cavalcanti costura nessa composição a intimidade e o espaço urbano, a mulher e a cidade, num cenário que é pura poesia tropical.
Curadora: Denise Mattar